domingo, 14 de fevereiro de 2016

HÁ 70 ANOS NÃO EXISTE MULHER COMO ELA







Há exatas 7 décadas, no dia 14 de fevereiro de 1946, era lançado nos EUA o segundo filme que eu mais gosto – o primeiro todo mundo sabe que é “E O Vento Levou”. Mas como eu não consegui homenagear os 75 anos de “E O Vento Levou” em janeiro passado (por motivos óbvios: eu ainda não tinha um blog na época), aqui vai meu tributo de fã ao filme que verdadeiramente colocou o vestidinho preto no armário (não gosto da palavra “closet”) da mulherada: “Gilda”.

Conforme eu mencionei alguns textos atrás, “Gilda” é o meu segundo filme favorito, e teve grande importância na minha vida – entre outros motivos, porque também era o segundo filme favorito do meu pai. O número um para ele era “Casablanca” e ele não gostava de “E O Vento Levou”, mas em uma coisa ambos concordávamos: Rita Hayworth não levar a estatueta de Melhor Atriz por “Gilda” foi uma das duas ou três maiores sacanagens da história do Oscar. E  a maior prova disso foi a frase eternizada por Rita, que na vida real era o oposto total de sua personagem mais famosa: "Todos os homens que conheci sonhavam com Gilda e acordavam comigo". Não, ninguém nunca conseguiu ser uma mulher como Gilda. Nem a própria Rita Hayworth. 





“Gilda” foi lançado no Dia dos Namorados dos EUA e em plena Segunda Guerra Mundial. Em 1946 Rita Hayworth já era a Rainha da Columbia Pictures e desfrutava também do status de Musa do Exército, da Marinha e da Aeronáutica americanas. Naquele tempo, a censura era tão paranóica que mostrar o umbigo e/ou as pernas era algo tido como indecente. Imaginem então a reação causada por uma mulher que não apenas exibia (e não pela primeira vez) o umbigo e as pernas, e fazia o seu tradicional papel de anti-heroína (tipo de personagem no qual ela é até hoje insuperável), como também tirava uma simples luva com ares de quem tira toda a roupa. Essa cena, mais os diálogos geniais que pingavam veneno, fizeram com que na época o filme fosse proibido para menores de 18 anos, inclusive no Brasil.
            




         A história é aparentemente simples: o sinistro Ballin Mundson (George MacReady), dono de um cassino em Buenos Aires, contrata Johnny Farrell (o fofíssimo Glenn Ford), um rapaz para trabalhar para ele, e o jovem acaba se tornando o braço direito do chefe picareta. (Aí há uma molecagem para a época: a insinuação leve de que chefe e funcionário eram mais do que chefe e funcionário). Um belo dia, o chefe viaja e traz sua nova esposa, Gilda (em interpretação fantástica e injustiçada de Rita Hayworth), que nada mais é do que a ex de Johnny. E designa o rapaz para tomar conta dela. Para piorar, Gilda diverte-se provocando e maltratando o ex. A cena em que ela joga o cabelo ficou famosa também no filme “Um Sonho de Liberdade”.






Este filmaço pré-feminista tem também uma trilha sonora fantástica, que inclui as jóias “Put The Blame On Mame” (usada no DVD “This Is It”, de Michael Jackson) e “Amado Mío”. A fotografia propositalmente “dark” e os cenários cheios de detalhes dão ênfase ao clima de teatro filmado, porque é isso mesmo que “Gilda” é.  Aliás, a maior parte dos filmes das décadas de 1930 e 1940 era teatro filmado puro – inclusive, e principalmente, “Casablanca” e “O Mágico de Oz”. Como eu já disse aqui, não é um filme para ser alugado. É melhor você comprar o DVD, porque vai precisar assistir mais de uma vez. A palavra é essa mesma: precisar. Porque as sutilezas do filme (principalmente do texto) são tantas, que captar todas na primeira assistida é humanamente impossível.





Se você ainda tem preconceito contra filme preto e branco, “Gilda” vai fazer você perdê-lo de vez. Até porque o filme continua inacreditavelmente moderno. Aos 70 anos, ele é mais moderno do que muita coisa nova que vemos por aí.

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